sábado, 10 de setembro de 2011

Além das lágrimas se esconde um poema...

A linguagem das lágrimas não pode ser entendida pelos corações de pedra. (...)


 
          Elas traduzem os sentimentos antagônicos de tristeza e alegria, nos alivia e nos enche, ela limpa os olhos de quem as vê, que de empatia chora junto, de amor sorri, de medo abraça.

          Elemento frutífero na literatura, cria o clima poético em tantas poesias, tantos enredos, que não sabemos se a vida imita a arte ou é a arte que nos permite imitar a dor do poeta escritor...

          E agora, uma coletânea com alguns poemas sobre o tema, de autores famosos e inspirados, que nos inspiram constantemente...Siga o que Clarice Lispector escreveu: Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento" Clarice Lispector.


Os Poetas
(Florbela Espanca)

Ai as almas dos poetas
Não as entende ninguém;
São almas de violetas
Que são poetas também.

Andam perdidas na vida,
Como as estrelas no ar;
Sentem o vento gemer
Ouvem as rosas chorar!

Só quem embala no peito
Dores amargas e secretas
É que em noites de luar
Pode entender os poetas.

E eu que arrasto amarguras
Que nunca arrastou ninguém
Tenho alma pra sentir
A dos poetas também!
(Espanca, 2002: 23)
          Ah, como entendo sua aflição, poeta de sentimentos, como entendo o seu entender a dor dos poetas, és poeta, és amor....Sou sua aluna, na dor do sentir, na imagem de quem me julga, a incompreensão de não ser aceita nem amada pelo que minha alma espelhou...

          "Há momentos que as palavras não passam de meros ruídos inúteis..."  mas para muitos os ruídos incompreensíveis são os que deveriam ser a sinfonia do dia...cada um sente e expressa da forma única de sentir...

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Motivo  (Cecília Meireles)
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
 
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          E as lágrimas são também amigas, são fiéis companheiras de tantos e irrestritos momentos...quero-te no meu rosto? Não. Mas não te nego a importante missão em minha alma, libertar-me do que sufoca meu peito, inundando olhos brilhantes, faces vermelhas com a visão de que estou viva...

Lágrima – Velho Tema


 
Ó lágrima bendita e santa e universal,
Eu te quero cantar, e este meu canto inspire-o
A feição que eu te dei, de intérprete geral
Da dor – de todo ser infalível martírio…


Que processo te faz no minério em cristal,
E na gota que luz no cálice do lírio?
Talvez tenham os dois, uma tortura igual
À tortura que funde em lágrimas o círio.


Seja embora ilusão, hei de sempre mantê-la:
- No côncavo do céu, há lágrimas astrais
E o bólide celeste é a lágrima da estrela!


Malfadadas irmãs! – são lágrimas iguais:
A resina que cobre as árvores fendidas
E a lágrima de dor das íntimas feridas!



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          Se quer saber como eu estou, não espere pelas palavras, elas são traiçoeiras, falam falsas dores a quem quer ouvir sobre verdades mentirosas...se quer saber como estou, olhe-me profundamente, veja minha alma, pela janela aberta que são meus olhos a chorar...

Se queres saber de mim
Se queres saber de mim
não olhes os meus retratos
julgando saber-me assim.

Se queres saber quem sou
não busque nas minhas respostas
quando perguntas onde vou.

Se queres saber quem é
esta que te sorri
não olhe para a mulher.

Que não me saberás pelo sorriso,
não me conhecerás pelas respostas,
meus retratos são imprecisos,
a cada dia traço novas rotas.

Se queres porventura, um dia,
entender deste coração,
olhe meus olhos primeiro:
é neles que mora a poesia
que me explica dia após dia
e me mostra por inteiro.

Se queres saber-me de fato,
recomendo-te menos cuidado,
muito carinho, pouca fala,
mais riso e tato, muito tato.
Débora Cristina Denadai


         Finalizo essa postagem com uma frase muito famosa de Leonardo da Vinci: “Os olhos são as janelas da alma  e o espelho do mundo”-  E com certeza, meus olhos revelam minha alma, meus momentos, derrama lágrimas de dor e alegria, lágrimas sem razão, lágrimas de paixão mesmo sem intenção de se apaixonar...meus olhos revelam a mim mesma que sente o mundo e seu peso em meus ombros...olhos que refletem o que meu corpo sofre, cada palavra lançada em rosto ardente, silêncio que significa ausência...sou a janela e o espelho por onde não posso fugir...

Comentários By Léiah Val. Laverny

       Finali
~ ~ >  "Pretendo que a poesia tenha a virtude de, em meio ao sofrimento e o desamparo, acender uma luz qualquer, uma luz que não nos é dada, não desce dos céus, mas que nasce das mãos e do espírito dos homens." < ~~
Ferreira Gullar
                                                                 Ferreira Gullar

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