terça-feira, 31 de julho de 2012

Os elementos...

         

           Já não me cabe apenas a brisa calma à beira do rio...preciso de mais! Quero sentir o mar quebrando nas rochas, incontrolável, intruso, forte, erótico, imprevisível! Quero ser os elementos em fúria, transformando tudo ao meu redor, me elevando em insuspeito desejo. Quero ser a força do tempo e a beleza do espaço, quero a leveza do ar e a imponência do espírito...simplesmente livre, altiva, como a águia que vagueia dona dos céus...

          Aí sim direi, por fim: ESTOU VIVA!!!

By Léia V. Laverny

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Apenas alguém que eu conheci...

          Eu costumava olhar o mundo ao meu redor de uma forma particular, muito minha...vi cada fragmento de todos que passaram por mim, tão quebrados, machucados, infelizes, miseráveis em seus passos arrastados e piedosos. Quando mudei a perspectiva, olhei mais atentamente para mim mesma e o que vi me fez arrepiar...no final era, simplesmente, "apenas alguém que eu costumava conhecer"...



          Tentei ser tantas pessoas, era múltipla em sentidos infinitos, lutando para me ajustar, mas não consegui sustentar o peso das máscaras que acumulei ao longo dos anos. Olhei no espelho e vi uma face lacrimosa e perdida. Quem era eu não sabia, não consegui reconheci. De tanto olhar me vi naqueles olhos, me conectei com aquela garota e com seus sonhos. Não precisava, não havia motivação, mas eu queria me reinventar de uma forma mais inteira. Juntar os pedaços perdidos nas eras vividas...

          Cada grito que ouvi em meu passado foi se calando devagar e substituído por um sorriso alegre, genuíno. Não era a garota presa no espelho, nem tão pouco a mulher perdida na realidade, me tornei outra coisa, um misto de sonhos e desejos, quis ser mais e me tornei inteira. Já não era uma estranha, alguém que eu costumava conhecer, agora eu sabia quem era aquele vulto, vi como cresceu e se tornou palpável...senti o toque do instante, do deslumbramento.

          Deixei de lado o que não era parte do meu ser, não sentia necessidade de fixar pontos, apenas aceitei a liberdade de sentir, de permitir-me algo mais. Agora eu sabia quem era, agora eu queria aquela pessoa em minha vida, aquele reflexo tanto tempo oculto em medos. Eu era muitas, eu era quase nada, eu era um paradoxo andante cheio de fugas e de repente eu podia conjugar o verbo de ação, subjugar o lamento e fazer-me dona do caminho que eu mesma escolhi.

         Foi quando entrei pelos portões daquela antiga residência agora transformada em hotel...sabia que tudo seria transportado para uma outra realidade. Já não era apenas uma coadjuvante, agora eu seria a protagonista definitiva de uma vida que se estampou diante de mim...

...continua.


By Léiah V. Laverny
In: Fragmentos...

Indiferença...

"E nunca me senti tão profundo e ao mesmo tempo tão alheio de mim e tão presente no mundo"....
Albert Camus

 

          Certamente um dos filmes sobre educação mais impactantes que já vi. Não apresenta o professor como sendo o glorioso redentor do futuro dos seus alunos, o que vai deixar tudo bem com métodos inovadores e chegar até a alma de seus alunos. Nesse caso, o filme Indiferença – Detachment (2012) foi muito mais profundo, conseguiu mostrar a máquina perversa que é o sistema educacional e como aniquila o ser humano em suas engrenagens envenenadas de teorismo, indiferença, prioridades erradas e políticas desastrosas que visam números ao ser humano.
            Já no início as declarações de professores sobre como encaram a profissão é um indicativo que nada há de glorioso ser o alicerce da sociedade, como pintam muitos. Sim, somos essenciais no momento que tentamos repassar o conhecimento de mundo para que os jovens possam entender a si mesmos e sua função nessa sociedade, como um personagem mais ativo. Infelizmente, no final das contas, vale a máxima: “Nenhuma boa ação passa impune.”, e o professor passa de caminho, de guia do conhecimento, para o culpado imediato de toda a situação descontrolada na sociedade.
            O peso da angústia, do medo, da incapacidade, da frustração, da impotência diante das situações bizarras do dia a dia tanto dentro como fora da sala de aula é refletido em cada personagem que se vê preso num labirinto de impossibilidades. São alunos desinteressados, agressivos, com sérios distúrbios comportamentais, emocionais, indiferentes diante de uma vida que se estampa cinza...negra até. Pais ausentes, abusivos, ignorantes que, na própria incapacidade de lidar com as situações, transferem para a escola a responsabilidade de cuidar do seu filho como se ela fosse um substituto para a função da família. Como na reunião de pais na escola e nenhum deles aparece...não ligam, não se importam.
            Entre as cenas comuns que acontecem em qualquer escola pública, a veracidade da fala do professor substituto Henry Barthes (Adrien Brody), em forma de pequenos depoimentos, tornam a reflexão mais forte. Ser professor é viver no limite, acordar todos os dias para a batalha que se estende entre o gerenciamento do temperamento de jovens, a burocracia que anula a autoridade da instituição exigindo elevação da porcentagem de aprovação e os dramas pessoais que não podem ser esquecidos, embora negligenciados em prol de uma encenação de força e coragem! Na fala da conselheira fica claro que lutamos sozinhos por todos os outros. Ela tenta conversar com uma aluna sobre futuro, sobre a importância de rever as prioridades e diante do descaso da jovem, a conselheira desmorona e afirma, “É tão fácil não ligar, mas é preciso coragem e caráter para se importar”. E realmente é o que ocorre. É realmente fácil não ligar, não se envolver, deixar para lá, afinal, não é meu problema se os pais, o governo e a sociedade não querem que as coisas mudem...mas não é uma opção para a maioria – graças a Deus – deixar de cumprir sua função, não por idealismo cego, mas porque é o seu trabalho, é o que precisa ser feito e como ninguém mais fará, pelo menos minha parte tem de ser feita.
            O filme vai além da sala de aula e dos conflitos entre docentes e discentes. Explora as questões relacionadas à gestão e como a máquina desmorona diante de ações mal intencionadas vinda do governo, de secretarias que nada entendem de educar, apenas de números vazios de contexto. Passa pelo convívio familiar caótico que produz jovens agressivos, sem limites e prontos a explodir a qualquer momento. E é preciso analisar como muitos pais conduzem seus filhos numa via contrária ao que propõem a escola. Educar, instruir, dar exemplos de bom comportamento, ética e cidadania...mas muitos pais colocam a escola como inimiga...Muitos alunos problemáticos podem ser melhor compreendidos após conhecermos os seus pais, como a jovem com problemas de peso, negligenciada pelo pai – absurdamente – e sofrendo bullying dos colegas, o seu desfecho, trágico, mostra-nos a fragilidade de nossos jovens, tão perdidos em situações limites tanto em casa quanto na vida.
            Realmente é um mosaico realista e em alguns momentos depressivo do ato de ensinar. E vale repensar as posições atuais, não deixar que o desespero tome conta, mesmo que a situação nos revele uma total falta de solução. As cenas finais em que Henry dá uma aula sobre o conto de Edgar Allan Poe “ A queda da casa de Usher”, parece ter um teor metafórico ácido, um prognóstico do que a educação tem se tornado...a destruição dos princípios que norteiam a função da escola, mostrando que o caos se instala e os muros são erguidos sem chance de serem transpostos...a sala vazia e perdida. Sem alunos, folhas ao vento, palavras solitárias em uma profissão desgastante e desgastada...como soldados prestes a perder a guerra, seguem sem perspectiva os últimos remanescentes...

By Léiah V. Laverny

domingo, 29 de julho de 2012

2 - Noites em Roma...

O que não era para acontecer foi uma surpresa. O que era para perdurar foi um instante. O que deveria ser felicidade foi embora quando acordei...




          Quanta coisa nos acontece sem que estejamos preparados. Foi assim que me senti quando entrei pelos portões do Napoleone. Entrei não apenas no local onde ficaria por alguns dias a trabalho, adentrei num outro universo, uma dimensão alternativa que desafiou tudo o que acreditava, minha noção de realidade foi colocada à prova e meus sentimentos se chocaram com a possibilidade de encontrar o estranho dentro de histórias tão particulares que a ficção não fazia jus a tudo que presenciei...

          E assim começo meu relato...a verdade não é final...é um meio para se chegar a uma sensação muito aquém daquilo com que lidamos nos dias comuns....

By Léiah Val. Laverny

sábado, 21 de julho de 2012

1 - Noites em Roma...



Se foi verdade eu ainda não sei, mas meu coração dispara quando penso nos momentos que eu tanto quero crer que existiram...



Diários do insólito...

22/07...
          Será que ele pensa em mim? Na verdade, porque pensaria? Nada foi tão importante...ou tudo foi um devaneio? Gostaria de saber se ainda estou em sua mente, de alguma forma em pensamentos mesmo espassos, mesmo camuflados em episódios sem nexo, entretanto ali, presente. Mesmo com os anos nos distanciando, será que ele enxergará que parece ter sido há dois dias? Tantas questões me deixam confusa, temerosa por minha sanidade, as horas não fazem jus ao possível transcorrido tempo...se foi há dois dias ou há dois anos, o que importa é que me fez sentir algo diferente.
...
          Fomos um caso crônico de separação...a geografia, o idioma, a cultura, a vida, tudo conspirou para que fôssemos um caso perdido e ainda assim nos encontramos. Quando penso que passei a maior parte de minha vida longe dessa possibilidade de encontro minha cabeça dói, meu peito aperta estranhamente e não entendo como consegui sobreviver...talvez porque, mesmo agora, o encontro não me garantiu uma pacificação de sentimentos. Revê-lo em pensamentos torturantes não é saudável, sei perfeitamente disso, e ainda eu me auto-contra-argumento dizendo que feliz eu era quando só conhecia o vazio de minha própria vida.
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By Léiah V. Laverny