quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

No meio do caminho....Maiakovski.

         


           Para que serve a educação? Normal a pergunta, vamos à resposta:

          Vi certa vez numa camiseta de um jovem o texto lindíssimo de Eduardo Alves da Costa, fiquei admirada e feliz por carregarem palavras de tamanho impacto social. No entanto, eis que veio a decepção. O texto estava com o autor errado. É, o autor não era e nunca foi Maiákovski...e o pior, o jovem impunha autoridade da rebeldia no peito de um autor que ele possivelmente nunca ouvira falar, ou não aceitaria tal absurdo de falta de informação!!!

          Em um outro momento, numa novela, (Mulheres Apaixnonada), com a personagem de Christiane Torloni a citação do mesmo poema, agora com o crédito certo da autoria. No dia seguinte todos "sabiam" quem era Eduardo Alvles da Costa...mas será que sabiam que foi declamado apenas um trecho do poema completo? Sabiam que era Eduardo Alves da Costa, ou ainda, quem era Vladimir Maiakovski??? Pelo que ele lutou, porque Eduardo o citou num poema em que declara estar no mesmo caminho que seu inspirador???

          ....é, simplesmente é para isso que a educação serve, não apenas para informar e formar, ela nos estimula a pensar, por nós, com os outros e criar um espaço de análise e criação de ideias...


SEJA ABAIXO A ÍNTEGRA DO TEXTO DE EDUARDO ALVES DA COSTA


NO CAMINHO COM MAIAKOVSKI

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de me quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

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