quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O fogo e a chuva...

"Sentia que algo morreu
Porque eu sabia que era a última vez..."
Adele - Set fire on the rain

          Eu olhei com tristeza para toda aquela situação. A alegria se transformou, o contexto mudou, a vida recuou para um estágio de negação de tudo que havia construído. Minhas histórias eram tão idiotas, tristes, lamentos de uma voz esquecida no fim do universo...Mas não aceitei as condições, fui à luta, me reergui e segui em frente com as chagas da dor de viver sob regras indefinidas. Queria ganhar e não ver o fogo consumir meus dias como tem sido, um incêndio existencial de proporções absurdas...
          Tantas lágrimas me molharam, achei que apagaria o fogo que me consumia quando deixasse de me importar, de sofrer. Viver incondicionalmente pelos dias que viessem era minha programação, o meio de romper os laços com o desespero e fugir de tudo que me fazia queimar. Mas aquele fogo ainda queimava minha alma, o medo não me deixava ir até onde devia, onde era meu direito.
E a chuva veio...tão forte, tempestade. Luz em olhos tão cândidos e alma tão frágil, mas ainda assim corajoso o suficiente para me ensinar como atravessar o fogo contínuo e não ser queimada, protegida apenas. Enquanto caminhava em chama que não me doíam mais, senti no caminho um medo, um abandono, aqueles olhos já não eram mais tão meus, o corpo agora debilitado já não conseguia me acompanhar...estava desistindo, ficando para trás.
         Como é possível, me perguntava. Não era o fogo que o impedia, era a vida, a maléfica e irônica vida que ceifava dele suas forças sem compaixão. Olhou-me com ternura, tentando evitar meus olhos quando podia...mas sabia o que diziam, mesmo não podendo usar palavras organizadas. Já era hora, havia passado com vitória pelas chamas, estava à salvo, sua missão estava completa...não precisava mais chorar as lágrimas de tantas vidas solitárias, agora era comigo...
          Aqueles olhos tão bons, tantas alegrias, tantos sorrisos e agora eu devia deixá-lo ir, precisa seguir porque até ali era sua missão, sua jornada. E decidi me levantar, cruzar a flamejante estrada com tudo que tinha aprendido com aquele ser e chegar ao meu destino, seja ele onde fosse, mas agora com a certeza de que mesmo que o fogo arda, a chuva virá e lavará o corpo ardente de contato, de cuidado e carinho.
          A chuva lava meus passos e leva longe os rastros de cinzas que tanto me sufocaram por anos. Vejo ao longe um horizonte azul, e lá encontrarei meu segundo sol...


By Léiah & Bavi

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