sábado, 11 de fevereiro de 2012

E assim caminha a humanidade...


          Prepotente e sem noção. Essa é a postura de quem não percebe o valor da experiência e do conhecimento que, convertidos em ação, se tornam poder. Avanços tecnológicos prolongam a expectativa de vida, mas não ensinam a importância de vivenciá-la profundamente. Jovens se afundam no conceito de estética e do destorcido carpe diem e se esquecem de se preparar para o porvir. Junto a isso vem a sociedade, na grande maioria, que fecha os olhos aos que construíram uma história e deixaram sua marca.
          Em pleno século XXI, com tantos avanços e descobertas, podemos oferecer uma vida mais confortável aos idosos os quais conseguem ultrapassar a expectativa de vida de outros tempos. Infelizmente a expectativa em si não é de uma vida plena e acolhedora, visto que ainda são tratados como párias, excessos que desestruturam a economia com o infindável pagamento de aposentadorias. Vilões! Enchem os hospitais com suas doenças e desestabilizam a constituição familiar com sua mera presença. É a grande ironia da vida quando heróis retornam como os desagradáveis vilões em uma terra cheia de futilidades, imediatismos e total ausência de respeito e inteligência.
            Cecília Meireles se pergunta “- Em que espelho ficou perdida minha face?” e os jovens se amontoam num reflexo de vida de momentos vazios, fugidios, fúteis e se acham os senhores do tempo – do seu próprio tempo desperdiçado, na ignorância de que tudo se converge para sua vida, pobre e triste vida sem história, só o presente a ser vivido irresponsavelmente, como num enredo ruim de um filme sem conteúdo. E validamos tais comportamentos por não conscientizá-los de que a máquina capitalista mastiga sua vitalidade e os transforma em velhos sem o espírito vivo e a alma enegrecida. Fernando Pessoa tinha razão, vale a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena...e onde está essa alma? Seu valor, sua importância?
          Somos culpados por omissão, tornamos nossos idosos invisíveis porque nos é conveniente, não queremos olhar no espelho e nos perguntar onde está a beleza externa, o corpo esbelto e atlético – tão chamativo, claro! -, a sexualidade aflorada em hormônios incontroláveis, o cheiro de carne fresca, a conquista, a posse, o poder da enganosa “imortalidade da juventude”. E assim vamos ensinando que velhice é morte eminente, inutilidade, gastos, punição e incômodo. Ledo engano passado por uma geração sem poder porque nada aprendeu sobre conhecimento – será que possuem isso? Claro que não, o google só lhe dá fragmentos de informações. O corpo é o templo da alma e se a alma está viva, intensa e forte o corpo a acompanha, mesmo com seus limites. Ser idoso não é ser um obstáculo social, é ser o poder de expandir o reflexo de nossos erros e de como fazer para aprender com eles.
            Não basta a invisibilidade pela arrogância, há a culpa jogada em seus ombros cansados. A previdência não consegue pagar tantas aposentadorias, vejam só, culpados por seguir o curso natural da vida e por terem contribuído por anos em prol do crescimento social que usufruímos tão alegremente. De fato, o curso natural na política é a inaptidão em gerir o dinheiro público e nós nada fazemos, não questionamos, não nos impomos, não protegemos nossos idosos, nem lutamos por eles, os mesmos que tanto lutaram para usufruirmos de um bem-estar tão cômodo a nós. Somos uma engrenagem da alienação social e política, novos brinquedinhos na trama vergonhosa da política atual e a velhice não me diz respeito. É o mantra que repetimos a nós mesmos para amenizar a culpa e continuarmos a não fazer nada para impedir o desrespeito, a violência, o descaso e a imoralidade com quem tanto tem a contribuir.
            O alívio – momentâneo – é que a doença da cegueira social não atinge a todos. Há programas de suporte aos idosos, projetos que devem ser mais valorizados e que têm o propósito de mostrar aos jovens que a velhice é, sim, a melhor idade, é o momento em que ligamos os instantes vitais de uma vida inteira à memória acolhida em histórias de realizações e fracassos, normais e essenciais em nossa existência. Cada ação para a melhoria do bem-estar do idoso dever ser seguida de uma conscientização individual que atinja o coletivo e transforme a situação ultrajante atual em um recomeço calcado na valorização das histórias de vida, no respeito, na devoção e de tudo que ele representa – VIDA, pura e simples, na sua forma mais intensa e brilhante.
            Não sei em que espelho se perderá minha face, mas sei o lugar em que posso enxergar o valor da existência vivida com dificuldades, alegrias, tristezas, amores e sensações, a importância do passado na construção de um futuro menos frustrante e sem as desculpas injustificáveis – nos olhos cheios de sonhos de quem decidiu não “dormir” diante do tempo que não para.

By Léiah Val. Laverny & Bavi



          Envelhecer é respeitar o tempo e as transformações, é aceitar a experiência como algo positivo, construtivo, sem demagogia ou imposição de padrões de beleza. A história nos mostra como a beleza está nos olhos de quem a vê. Espero que os "olhos atuais" tenham a decência de enxergar com um olhar desprovido do materialismo imposto pelas mídias e da hipocrisia de quem elege a inexperiência como o vão de entrada para todas as certezas importantes da vida.
                          E no amor, seja a idade que for, a beleza do companheirismo, a cumplicidade e o desejo sejam a herança para as gerações que não dispõem de respeito ao próximo e desconhecem a maravilhosa presença do genuíno sentido de "estar" e "amar".


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